terça-feira, 25 de outubro de 2022

Mais de 80% das mulheres estão endividadas


Foto: Romildo de Jesus



De acordo com um levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviço e Turismo (CNC), mais de 80% das mulheres estão endividadas no Brasil. O aumento foi de quase 6% em relação ao mesmo período do ano passado. As dívidas estão principalmente no cartão de crédito e no cheque especial. Nas demais modalidades, como carnês de loja, crédito pessoal, financiamento de carro e casa ou crédito consignado, o público masculino é mais numeroso, superando o feminino. Segundo especialistas, isso comprova a maior participação feminina no comando das despesas.

“Isso demonstra o protagonismo das mulheres, o quanto elas estão assumindo os gastos com a família. Como a maioria dos homens, companheiros já vinham ao longo das últimas décadas se endividando devido ao período de crise, já não dispõem tanto de crédito, logo as mulheres começam a assumir as despesas e a utilizar o crédito para alimentar as famílias e adquirir os bens de consumo. Consequentemente acabaram se endividando. Além do consumo natural que as mulheres têm com seus gastos recorrentes, elas tiveram que assumir outras despesas. Vamos lembrar que atualmente muitas são chefes de família. O crédito vem como única forma de manter o consumo”, destaca o professor e especialista em finanças Antônio Carvalho.

Outro ponto a destacar é o aumento dos alimentos e o oferecimento das compras de forma parcelada no cartão de crédito, “antes eram poucos os mercados que vendiam alimentação a crédito, hoje o recurso é oferecido em todos os estabelecimentos até com parcelamento. Com a renda reduzida se expandiu e as famílias veem no crédito a saída para continuar comprando. Não se deve comprar comida a prazo, pois logo vai precisar comprar novamente e estará devendo ainda a do mês passado. Essa mudança do perfil de consumo também é a grande causadora do endividamento. Comida assim como luz, água e telefonia, contas que se repetem a cada mês não devem ser parceladas. Comprar no crédito parcelado significa que a partir do segundo ou terceiro mês a família estará tão endividada que vai realizar a compra do mês e pagando ainda parcelas anteriores. Isso é preocupante”, lamenta Carvalho.

Para quem está endividado, Carvalho diz que a renda atual não está sendo suficiente para honrar os compromissos, então inevitavelmente terá que provocar mudança nos hábitos para honrar todos os compromissos, além de sacrifícios e reduzir alguns consumos possíveis. “O negócio é tentar fazer uma economia para sobrar dinheiro e renegociar a dívida. Uma opção é para quem tem renda fixa ou ter um trabalho formal utilizar o 13º, utilizar para amortizar ou quitar a dívida. Mas o importante é negociar, pois as dívidas crescem nos moldes que conhecemos, as taxas são altas. Negociando a pessoa congela a dívida por um determinado valor e evita que cresça. Mas é importante o consumidor entender que só vale negociar se tiver condições de pagar. Recomendo que seja feita com o apoio de um órgão de defesa do consumidor como Juizado ou Procon para garantir que seja justa”.

A doméstica Inácia de Jesus diz que começou o ano totalmente endividada no cartão de crédito e teve que pedir ajuda aos familiares para regularizar a situação, “gastei muito comprando alimentos e aconteceu realmente de parcelar porque o dinheiro não dava conta. Tive que começar a usar o cartão do meu filho, e da minha nora para continuar comprando, mas reduzi as compras e pedi ajuda para a família onde trabalho. Eles adiantaram meu 13º e também me ajudam mensalmente com uma cesta básica”.


Por Tribuna da Bahia, Salvador