O choro não tocou o bandolim, a voz não sufocou o violão e as cordas se afrouxaram. O samba amanheceu em silêncio nesta sexta-feira (8) com a morte de um dos maiores nomes do gênero, Arlindo Cruz, aos 66 anos.
A morte do artista foi confirmada pelos familiares, oito anos após um AVC hemorrágico que deixou graves sequelas no artista, dando ao público uma despedida melancólica dos palcos antes do tempo.
O cantor deixou a esposa, Babi Cruz, os filhos Arlindinho e Flora, e três netos.
O cantor carioca sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico em março de 2017 e foi internado de forma imediata, se despedindo dos palcos sem saber que a última apresentação, realizada no dia 14 de março, seria a última.
Salvador seria um dos destinos de Arlindo antes do AVC que acamou o artista. O público esperava o carioca como uma das atrações do Festival Vozes do Brasil, que aconteceria no dia 19 de março, na Concha Acústica.
Arlindo ficou mais de um ano internado na Casa de Saúde São José, no Humaitá, zona sul do Rio. No retorno para casa, o cantor passou a receber home care para tratar das sequelas significativas do AVC, incluindo dificuldades na fala e mobilidade.
O cantor chegou a apresentar uma melhora na questão motora, e recuperou movimentos da boca, permitindo que ele comesse alimentos pastosos, além de ter auxiliado na expressão de sentimentos.
A família também relatou que ele apresentou melhora na parte motora, respondendo a estímulos e conseguindo se ajeitar na cama. No entanto, o quadro regrediu após as internações do artista.
Uma das últimas declarações sobre a saúde do artista foi revelada após a alta no início de julho, depois de dois meses internado em decorrência de uma bactéria resistente adquirida após um quadro de pneumonia.
Na ocasião, Babi contou que o artista já não respondia mais aos estímulos. “Tivemos momentos lindos dele segurando copo, segurando biscoito… Hoje não temos mais isso do Arlindo. Hoje ele está bem dentro do mundinho dele, do universo dele. Bem distante”, afirmou no livro sobre o marido.
Antes disso, o artista estudou solfejo e violão clássico na escola Flor do Méier e fez parte do coral na Epcar (Barbacena, MG).
Arlindo integrou o Grupo Fundo de Quintal até 1993. Na banda, o artista entrou como substituto de Jorge Aragão, tocava banjo-cavaquinho e foi responsável por compor grandes canções que colaboraram para o que se chama de pagode moderno.
O passo rumo a carreira solo foi dado ao deixar o Fundo de Quintal em 93. Entre os principais trabalhos do sambista estão a parceria com Sombrinha (1996–2002), o sucesso “Da Música” (1996), e o DVD “MTV ao Vivo: Arlindo Cruz” (2009), que ultrapassou 100?mil cópias.
Além da voz característica, Arlindo era o que podia se chamar de caneta de ouro. Ao todo, de acordo com o Ecad, Arlindo tem 795 obras registradas, com cerca de 1797 gravações por diversos artistas, como Zeca Pagodinho, Maria Rita e Beth Carvalho.
O carioca conquistou ao longo da carreira cinco indicações ao Grammy Latino, sendo 4x por álbum de samba/pagode e 1x por canção em português, venceu 26 prêmios, incluindo o Prêmio da Música Brasileira (2015) e Estandarte de Ouro.
Em 2025, o cantor ganhou uma biografia, 'O Sambista Perfeito', escrita por Marcos Salles. A produção aborda a vida de Arlindo dentro e fora dos palcos, com depoimentos de artistas e familiares, cerca de 120 pessoas entrevistadas.
No livro, o público conheceu um pouco da infância conturbada do artista, além de problemas pessoais do cantor mais a fundo, como o uso de drogas, tópico que passou a ser abordado após o AVC.
Por Bianca Andrade/ Bahia Notícias